Voz para a negritude

Brasília é uma cidade marcada pela violência contra a população negra. Desde a criação da capital, candangos e comunidades tradicionais do Centro-Oeste foram criminalizados. As violações enfrentadas por essa população para que a Esplanada dos Ministérios fosse erguida fazem parte de uma história que os meios de comunicação ainda devem à cidade. O processo de remoção e segregação geográfica da população preta e pobre também não foram devidamente retratados por pesquisadores e profissionais de comunicação, salvo honrosas exceções.

Os meios de comunicação contribuem para marginalizar a população negra ao persistir em práticas como a publicação de imagens de crimes bárbaros, onde as vítimas em geral são negras. Os jornais e programas de televisão do Distrito Federal, principalmente os considerados “populares”, reproduzem imagens de mulheres dilaceradas, utilizando esse recurso como caminho fácil para garantir vendas nas bancas.

A polícia é cúmplice dessa prática. Expõe presos, muitas vezes apenas suspeitos por crime, às câmeras fotográficas e de TV, numa atitude que nos faz lembrar cenas de leilão de escravos fugidos. No dia-a-dia da cobertura jornalística, as redações dão destaque para crimes contra famílias brancas de classe média e deixam no esquecimento o genocídio da juventude preta.

Os movimentos sociais de negros e negras do DF e Entorno têm se mantido ativos na luta contra o racismo midiático e na busca de seu empoderamento como agente da comunicação. No diálogo com rádios públicas da cidade, coletivos e movimentos lutaram e conquistaram espaços para a música e a cultura negra.

Por meio de jornais e sites criados a partir do protagonismo negro, coletivos e movimentos têm denunciado a intolerância religiosa, o descaso com a saúde da população negra, a falta de incentivo e espaços para a cultura afro e a cobertura racista sobre o sistema de cotas na Universidade de Brasília (UnB).

Esses esforços contribuíram, inclusive, para que a 1ª Conferência Nacional de Comunicação, a ser realizada em dezembro, tivesse no eixo temático “Cidadania: Direitos e Deveres” o debate sobre respeito e promoção da diversidade cultural, religiosa, étnico-racial, de gênero e orientação sexual.

Esse é apenas o ponto de partida. A população negra já conta com diversos marcos legais que obrigam governos e iniciativa privada a promover o respeito à diversidade cultural dos grupos formadores da sociedade brasileira e demais grupos etnicorraciais discriminados. O Plano Nacional de Igualdade Racial prevê, por exemplo, estímulo à inclusão de critérios de concessões de rádio e televisão que garantam políticas afirmativas para negros, indígenas e ciganos.

Na Conferência Distrital de Igualdade Racial, em maio de 2009, os movimentos sociais de negros e negras do DF apresentaram e conseguiram a aprovação de propostas. Entre elas, a criação de um Observatório de Mídia e Direitos Humanos no DF, responsável por estudos, pesquisas e capacitação na área de comunicação e igualdade racial.

A Conferência de Igualdade Racial também deliberou que sociedade e governo incentivem a criação e funcionamento de rádios comunitárias em áreas habitadas pela população negra do DF, apoiem e financiem veículos de comunicação alternativos, criados por comunicador@s, artistas e comunidades negras/indígenas, e incentivem a utilização de novas tecnologias e redes sociais por pontos de cultura, comunicador@s, artistas negr@s/indígenas e afroreligios@s.

Essas ações são apenas parte do que deverá ser um Plano Nacional de Políticas de Comunicação para a Igualdade Racial. O movimento social negro está se organizando em todo país para exigir essa política. Não podemos sair da I Conferência Nacional de comunicação sem garantir que o governo assuma esse compromisso. Já começamos a construir esse caminho organizando conferências livres. Na Conferência Distrital de Comunicação vamos consolidar nossas propostas e fortalecer nossa voz. Participe!

Fórum de Mulheres Negras do DF, Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial, Movimento Negro Unificado, Unegro, Federação Brasília e Entorno de Umbanda e Candomblé.

WWW.forumdemulheresnegrasdf.blogspot.com
WWW.cojiradf.wordpress.com
WWW.mnudf.blogspot.com

*Coletiva de Imprensa - Pela Implementação do Comitê Técnico de Saúde da População Negra do DF.

*Coletiva de Imprensa - Pela Implementação do Comitê Técnico de Saúde da População Negra do DF.

*Ato no 20 de Novembro. Praça Zumbi dos Palmares e nossas Dandaras...

*Ato no 20 de Novembro. Praça Zumbi dos Palmares e nossas Dandaras...